Fortuna Literária - Cesar Poletto

Poetizar é exteriorizar, é exaltar o belo, e, acima de tudo, embriagar-se com a vida.

Textos

INTRÓITO PRIMAVERIL
Entrego-me à lira, quando sopra o derradeiro ósculo frígido
Entrego-me porque sou cáustico, contudo vôo.

Encerro-me nas tiras sobranceiras do destino, pois as tenho em demasia
Sorrio tanto, embora enquanto haja ou áspera, cândida e sorrateira, range minh’alma de poeta.

Entrego-me tanto quanto posso, na magia e na manteiga invertida
À vida ungida, à indocilidade e ao pejo das rimas
Entrego-me a tudo a sibilar tristonho; ao oeste mais enfadonho – sem pôr do sol e sem ser assaz etílico.

Emprego-me nas trevas, com azinhagas a vencer, com enciclopédias a beber
Não nego minhas origens de geriatra dos versos
Na antiinquisição verdadeira do resto
Entrego-me, então.

Pois já se faz tomada a profusão primaveril do cio humano
Já se tem a breve noção do lume a se erguer, do rasgo a se curar
Despetalando e batendo com os dentes na odisséia conclamada do tempo
Ora, entrego-me à essência, cuja rainha abelha entornou ali do lado.

Envergo-me muitíssimo, mas hei de seguir perquirindo
Inquirindo, pernoitando em clara nau, açoitando gris velame
- no baixio da escada, na verga assombrada do nada –
Entre poços e berços a matar minha incomensurável sede de viver...

De morrer e de sorver, até o único ser desta página, poder dizer:

Que lindo, poeta!
Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 22/09/2009
Alterado em 24/09/2009
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