Fortuna Literária - Cesar Poletto

Poetizar é exteriorizar, é exaltar o belo, e, acima de tudo, embriagar-se com a vida.

Textos

QUANDO ESCREVO...
Quando escrevo, elaboro a seiva holística
Melo e selo a contracapa da morte, evaginando-a
Se ela, ei-la! - com matracas e alfavacas.

Quando escrevo, padeço em clamar a alma do verso – sol em voga
Paralítico e abissal o velame prateado, outrora rogado
Em sua autarquia mais ingênua, mais honesta, deveras ágil.

Quando escrevo, determino os colchetes de entrada
Navego por mares acíclicos, insípidos, com o olor de flor campestre
Ouso-me e lhe amo, versos de prata! Ouço e o amo!
Na formosura do amar viril e antiséptico; bucólico e servil.

Quando escrevo, faço-o inadvertidamente
Não miro os aplausos, e sim, as favas
Só sei das manias do verso, de se impugnar e de ser recheio
Não a culpo, letra embramada – tem da sorte o tom.

Quando escrevo, boto no copo a divindade demoníaca do espírito
O holocausto casto, plúmbeo e prásino; descorado e âmbar
- parece até que não me esquece!

Quando escrevo, lanço cinza ao codinome do espelho
Sou desjeito, sou canhão (meu faro não deleita; meu farol não se aceita)
Escuto, impávido, a indocilidade e as gírias (a imbecilidade e a gira).

Quando escrevo, admiro sequelas pensantes e lhes dou passado e mel
Ao não ser que ferva de mansinho; a meu ver, o pires recolhe o vinho e o abacate...
Como se fosse ontem.

Quando escrevo, rejeito os versos dourados cheios de rimas; cheiro de pútrida e requentada alquimia
Pois, quando vejo que nem bem sei escrever, enojo-me à alcunha de Hitler frente a um espelho que desmereci e aprendi a amar...

Perdoe-me!
Quando escrevo, não sou capaz de pensar.
Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 28/10/2009
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