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Meu Verso, Meu Divã
Desconsolo cinza filtra parda manhã
Cocos ocos na areia sangrenta da vida Meus imãs rumam ao incerto das vias, descorados estão Sem vela a acender o ânimo Sem beleza a intrometer-se no canto; não há resquício, não há intróito Nódoa reticente e engraxada, assaz inchada De olhos e bandeiras prontas, à procura da furtiva faca A cortar os caminhos da quede melancolia A engasgar os cotovelos cobrejando nos bares A viajar no lúdico do penar, no subterfúgio do imaginar; Deveria ter vindo com asas a aterrissar profundo num ás mudo De pouca altura que não me causasse um dano De touca impura que me pungisse o manto Que me oferecesse a pluma em carne de ganso Que me expusesse à inimaginável veste do prazer: viver Consolo eflúvio em que todos os poros regozijassem e se partissem Inda que todos estivessem lecionando, haveria de desviá-los; Queria, humildemente, ter Tom em meu som, ter cara frívola sem batom Nos repiques e nas esquinas do humor, lançar-me-ia em inquietudes ralas e desmedidas; Pensava ungir idéias, celeiros em polvorosas, ilhotas Planeava cultivar o joio, não a rosa, já que tantos o fazem Devia possuir escamas a rejeitar o leito, santo que fosse Despreocupadamente, prateado e quente Tenda fugaz a me impelir os vezos A me abluir dos cheiros, a me anuir nos degraus mais tórridos A me reabastecer de ânimo.
Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 29/01/2007
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